Os Pinguins do Papai

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Amigo delfonauta, escrevo essa resenha do parapeito do último andar do Edifício Itália, o segundo prédio mais alto de São Paulo. Enquanto contemplo o suicídio e escrevo estas mal traçadas com os seguranças do local grosseiramente quebrando minha concentração ao tentar me convencer a sair do parapeito, penso nos motivos que levaram minha vida a esse ponto. Por quê, ó, Deus, por que fui assistir a Os Pinguins do Papai?

O pior é que eu sei a resposta, amigo leitor. Eu assisto a essas porcarias porque você, meu gentil, carinhoso e sádico público fiel, adora me ver sofrer. Você adora quando eu perco horas do meu dia em um filme tão ruim e tão comercial que absolutamente nenhum delfonauta vai pagar para assistir (com a possível exceção daqueles que têm filhinhos pequenos e, meus amigos, eu compadeço da sua dor).

Assim, lá vou eu rumo a uma porcaria com o Jack Black. E lá volto eu em direção a mais uma sessão putrefata com o Jim Carrey.

Caramba, esses dois, mais o Eddie Murphy, são os maiores sinônimos de filmes ruins e comerciais da história. Mas pelo menos o Eddie Murphy é tão ruim, mas tão ruim, que as distribuidoras têm vergonha de mostrar seus filmes para a imprensa. Assim, eu acabo escapando. Já a dupla Carrey e Black, por algum motivo que me escapa, ainda são mostrados, embora sejam tão ruins quanto. Para meu pesar e sua alegria, meu amigo sádico.

Aliás, os dois são praticamente a mesma coisa. Diria até que Jack Black é o Jim Carrey da geração atual. Dois atores medíocres que não conseguem fazer nada além de himself, sempre com as mesmas piadas, mesmas caretas, e até a mesma vozinha aguda. E como eu disse na resenha de Kung Fu Panda 2, até mesmo assistindo à versão dublada dá pra sacar exatamente qual foi a entonação original. Simplesmente porque é sempre – SEMPRE – igual.

Mas eu entendo porque as crianças gostam deles. Criança gosta de coisa repetitiva, gosta de saber o que vai acontecer, por isso assistem às mesmas coisas várias vezes. Não é à toa que, dos últimos cinco longas do Jim Carrey, três são para crianças com menos de três anos: ninguém que já passou disso aguenta o cara!

O pior é lembrar que, quando era criança, eu adorava o Jim Carrey. O Máscara e Debi & Lóide são clássicos da minha infância, mas tenho certeza que nenhum deles resistiria a uma analisada do meu eu adulto. E se os clássicos dele são péssimos, pior ainda é o que ele fez recentemente. Horton e o Mundo dos Quem? Os Fantasmas de Scrooge? Número 23? Fala sério, né? E não podemos esquecer do clássico Batman “mamilos” Forever. Carrey vem acumulando mais filmes ruins na carreira até mesmo do que o Nicolas Cage. Pelo menos os filmes de Cage, embora ruins, mantêm alguma integridade artística.

Os Pinguins do Papai, amigo que está neste momento na avenida Ipiranga gritando para que eu pule, é tudo que podemos esperar do Jim Carrey. Lá está ele, com suas mesmas caretas, suas mesmas vozes, suas piadas envolvendo cocô e peidos e, claro, o mesmo personagem de sempre: o pai que trabalha tanto que não consegue dar atenção aos filhos. Daí acontece algo extraordinário que vai ensiná-lo a valorizar as poucas coisas realmente boas do mundo: filhos e sexo com uma mulher linda. Em outras palavras, Os Pinguins do Papai é O Mentiroso com pinguins. E trocando a bonitona Maura Tierney pela beldade Carla Gugino.

Mas pinguins são legais, né? São fofinhos e patetas. Ora, são os bichinhos mais divertidos que existem, ao lado dos macacos. E isso é verdade. E se você quer ver pinguins, assista a Happy Feet. Os pinguins do senhor Popper até são fofinhos (são pinguins, afinal de contas), mas seriam muito mais divertidos se não passassem metade do seu tempo de tela peidando ou fazendo cocô em cima dos atores humanos.

Eu até ia dar meio Alfredo para o filme – afinal, tem pinguins – mas aí o Jim Carrey terminou o filme com um discurso God Bless America, incluindo o grand finale em que ele canta “América” com a mesma voz que já usa desde O Máscara. Foi a maior vergonha alheia que já vi em um filme e não tive outra opção além de voltar para uma merecida nota zero. A Fox deveria, no mínimo, cortar essa cena para os lançamentos internacionais. Sério, é deprimente.

Absolutamente tudo aqui é previsível. Desde a cena inicial mostrando os daddy issues do menino Popper até os créditos ao som de Ice Ice Baby.

Não existe criação aqui, são apenas reprises de conceitos, piadas e cenas que já vimos milhares de vezes. Eu senti que estava escrevendo o roteiro conforme o filme era projetado e, se consigo ver o futuro, significa que já sou iluminado e, portanto, que já cumpri minha missão na Terra. Dessa forma, não tenho outra opção a não ser pular e usufruir da queda de 151 metros. Vai ser emocionante.

Mas ei, peraí, um carteiro apareceu por aqui dizendo que tem uma encomenda para mim. Deve ser meu Duke Nukem Forever! Acho que dá para eu adiar meu suicídio por mais uns dias. Vai ser legal curtir algo realmente bom depois de ser submetido a essa porcaria. Vai me fazer bem. Hail to the king, baby!

Três horas depois, o Corrales voltou ao topo do prédio e se jogou. Aparentemente Duke Nukem Forever não era tão bom assim.